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Voz às vítimas anônimas da ditadura militar

UFRJ terá acervo com depoimentos de vítimas da ditadura militar

A UFRJ vai produzir um acervo com documentos, vídeos, depoimentos e entrevistas de professores, estudantes e funcionários da universidade, vítimas da ditadura militar. A Cidade Universitária, campus na Zona Norte do Rio, ganhará ainda um memorial como tributo a estudantes mortos e desaparecidos no período.

As ações foram anunciadas ontem, na cerimônia de instalação da Comissão da Memória e Verdade da UFRJ, no campus da Praia Vermelha, Urca.

O evento contou com a presença do reitor Carlos Levi, do vice-reitor Antonio Ledo, da representante da Comissão Nacional da Verdade, Rosa Maria Cardoso da Cunha, e do presidente da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, Wadih Damous. A cerimônia foi presidida pelo diretor do Fórum de Ciência e Cultura, Carlos Vainer.

A jornalista Hildegard Angel, filha da estilista Zuzu Angel e irmã de Stuart Edgar Angel Jones, desaparecido político na década de 1970, prestou na cerimônia um emocionado depoimento público, descrevendo como o regime militar deixou marcas em sua família, segundo ela, nunca superadas.

“As feridas, em vez de fechar, se alastram”, disse Hildegard. A jornalista leu uma carta inédita do militante Alex Polari, escrita em 1974, relatando como seu irmão foi morto pelo regime, na base aérea do aeroporto Galeão, no Rio. Stuart foi estudante de economia da UFRJ e militante do MR-8, organização que promoveu combate armado contra a ditadura.
Segundo ela, a cineasta Lúcia Murat carregou a carta dentro da vagina, após visita ao presídio da Ilha Grande, em visita ao marido. “Assim era a dificuldade de se saber a verdade naqueles anos”, disse.

A professora da UFRJ Dora Santa Cruz, irmã do líder estudantil desaparecido, Fernando Santa Cruz, que hoje dá nome ao diretório central de estudantes da Universidade Federal Fluminense, também relatou o impacto do regime sobre sua vida. 
De acordo com Carlos Levi, a comissão será uma forma de passar a limpo um período histórico: “É obrigação da universidade honrar a memória daqueles que, em nome de suas convicções, engajaram-se numa luta de resistência”. 

“A UFRJ tem a partir de hoje a oportunidade de iluminar essas histórias, recuperando trajetórias que trarão paz e sossego para seus parentes, amigos e descendentes”, disse o reitor.
A representante da Associação de Docentes da UFRJ (Adufrj), Luciana Boiteux, e o representante do DCE, Afonso Menezes, também participaram da mesa de abertura. Eles fazem parte da comissão, criada em portaria da universidade, que nomeia os integrantes da comissão.

“Temos ainda muito a conhecer, investigar e até mesmo reparar”, disse Marco Aurélio Santana, diretor do Instituto de Filosofia e Ciência Sociais (IFCS), um dos presentes à mesa de abertura. Ele disse que os abusos do estado se perpetuam ainda hoje e citou episódio do dia 20 de junho, em que centenas de estudantes buscaram refúgio na Faculdade Nacional de Direito e no IFCS, temendo repressão policial, por conta das manifestações no Centro do Rio.

De acordo com o professor Carlos Vainer, o trabalho da comissão será “dramático e extraordinário”.

Fonte: ASSESSORIA DE IMPRENSA/UFRJ



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